Não desanime

Não desanime, em março coisas boas vão acontecer. As palavras da cartomante deveriam me trazer conforto, mas acabam trazendo a tona mais dúvidas. O que seriam coisas boas? O que eu gostaria que acontecesse na minha vida daqui pra frente? Eu não sei o que me faria feliz.

Não acredito que as coisas boas vão acontecer do nada. Elas são o resultado de ações do passado. Não sou ingenua de achar que eu posso ficar parada esperando as coisas acontecerem, eu tenho que fazer acontecer (e é provável que esse tipo de mentalidade seja responsável pelos acertos das cartomantes).  A questão toda é que eu não sei o que eu quero fazer acontecer.

Escutar a previsão me trouxe mais aflição que conforto. Não consegui evitar pensar que essa coisa boa pode não ser boa de verdade. Por exemplo, fiz alguns concursos, mas não sei mais se quero continuar nessa área. Passar no concurso seria uma coisa boa, mas eu não sei se ainda quero esse emprego.

Pensei no concurso porque é a única coisa inesperada que consigo imaginar. Nos últimos meses eu só tenho ficado em casa cuidando do meu avô durante a pandemia. Não tenho saído para fazer nada, com medo de infectar o meu vô ou qualquer outra pessoa da minha família. Ao mesmo tempo que eu estou satisfeita por conseguir garantir um isolamento mais confortável para o meu avô, me sinto frustrada por estar estagnada e sem perspectiva de mudança. Queria procurar um emprego, conhecer pessoas novas, ampliar meus horizontes, mas para isso teria que sair de casa e expor meu vô ao risco de contágio. Por mais que eu queira mudanças na minha vida, no momento, não consigo deixar de priorizar a vida do meu vô.

O que eu posso fazer agora, dentro das minhas limitações, para que coisas boas aconteçam no futuro? Não consigo deixar de pensar que minha vida está parada até que saia essa vacina. Até lá nada de bom pode acontecer. Não acredito que algo de bom possa acontecer em março.

Contudo, tenho tentado me convencer de que não importa se coisas boas vão acontecer em março ou não. O fato é que nada de bom vai acontecer se eu ficar desanimada acreditando que a única opção é esperar a vacina sair. Tem que existir uma brecha dentro da minha realidade limitada. Eu posso não saber o que é, mas eu nunca vou saber se permanecer voltando a minha cabeça para aquilo que eu não consigo mudar, para aquilo que eu não gosto. Eu nunca vou saber o que pode me trazer felicidade se eu só focar no que me faz triste. Tenho que focar naquilo que eu ainda não sei, procurar novas possibilidades.

No final, não importa se eu acredito ou não na previsão da cartomante. O fato é que o conselho permanece válido: não desanime.

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